quinta-feira, 3 de junho de 2010

JOÃO AGUIAR - ADEUS AMIGO!

Legenda: A foto de família no lançamento de A Voz dos Deuses. Em cima, da esquerda para a direita: João Rodrigues, o editor; Nuno Galvão, o colorista e autor do stand e João Aguiar. Em baixo: Rui Carlos Cunha, o meu co-argumentista e eu.

    Há pessoas que passam pela nossa vida e deixam marcas indeléveis. João Aguiar, para mim, foi uma delas. Um dia, depois de ter lido com entusiasmo A Voz dos Deuses, pensei que estava perante um excelente livro para adaptar para banda desenhada. Decidi, então, encher-me de coragem e telefonar para o autor, por causa da questão dos direitos. A voz que me atendeu do outro lado do fio pareceu-me, de imediato, afável e amistosa. Logo ali, combinámos o primeiro de muitos almoços que, ainda hoje, recordo com saudade.
   O escritor, já eu o conhecia das linhas que, na minha cabeça, se transformaram de imediato em imagens, mas o ser humano que criou esses textos, digo-vos eu, ainda era melhor. Isto pode parecer um lugar comum, mas não é. Sempre disponível, acompanhou o desenrolar da obra a par e passo, tendo pedido unicamente, como pagamento de direitos, que lhe oferecesse apenas algumas pranchas que queria guardar, depois do livro estar pronto e publicado. Inicialmente passou-me pela cabeça que fosse ele a escrever o texto. Amavelmente, declinou a oferta e disse que preferia ver o que é que outros poderiam fazer com a obra. Foi nessa altura que decidi pedir ajuda ao Rui Carlos Cunha, para me ajudar com os textos, e ao Nuno Galvão, com as cores, pois senti que ia ter muito trabalho pela frente. Mas, de uma disponibilidade sem limites, João Aguiar foi sempre uma pessoa presente, durante as várias fases da criação: sugeriu-nos locais, emprestou-nos fotos, textos, ajudou-nos a desenvolver ideias, etc, etc.
   Recordarei para sempre, aquele olhar curioso e atento de um homem simples que, por acaso, já era um escritor famoso, mas, que, nem por isso, deixou de nos ajudar em todos os momentos. Assim, pensei que seria uma pequeníssima, mas justa homenagem, colocar aqui duas das muitas fotografias que foram tiradas, na altura do lançamento do livro no Festival da Amadora em 1994. E também aí, João Aguiar foi único. Começou por dizer que aquele momento era nosso, mas como insistimos e dissémos que a obra também era um bocadinho dele, porque, para além de ter sido da sua imaginação que ela nasceu, também ele foi uma pessoa sempre presente na fase da criação da BD. Aceitou, então, participar e acompanhar-nos nesse momento que para mim,  foi o concretizar de um sonho.
   Não é portanto muito difícil, calcular o que senti hoje à hora de almoço, quando ouvi nas notícias que o seu coração tinha deixado de bater. Por isso, finalizo este texto dizendo: desculpa lá a familiaridade, mas onde quer que estejas João, que Endovélico e todos os outros Deuses te acompanhem sempre,  lá longe, nesse pequeno paraíso, onde tu estarás a continuar aquilo que tão bem soubeste fazer por aqui: CRIAR!

6 comentários:

  1. Olá João!
    Lamento a partida deste escritor fabuloso, que todos nos habituámos a admirar e respeitar.
    Vim aqui buscar a foto dele e fiz link para aqui.
    http://peroladecultura.blogspot.com/2010/06/joao-aguiar-1943-2010.html
    Um abraço forte.

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  2. Quando parte na grande travessia, é sempre triste, especialmente quando é alguém que conhecemos e admiramos.

    Abraço. :)

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  3. Lelé Batita,
    O escritor era notável, sem dúvida. Mas o ser humano que, eu tive o privilégio de conhecer um bocadinho, ainda era melhor, acredita. Um abraço.

    OCP,
    Faço minhas as tuas palavras. Obrigado. Abraço para ti tb.

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  4. Não conheci o ser humano, apenas a vertente de escrita. Foi uma pena... presumo que ainda pudesse dar mais de si à escrita portuguesa, não fora esta partida tão cedo.
    Descanse em paz!

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  5. "A Voz dos Deuses", de João Aguiar, foi uma das obras literárias de autor português contemporâneo que mais me fascinou.
    E como o João Amaral com certeza se recordará, assisti (parcialmente) à realização dessa sua adaptação à BD, visto que, sempre que nos encontrávamos, você, entusiasmadamente (era a sua primeira obra de grande fôlego) ia-me mostrando as pranchas entretanto já feitas.
    Só conheci João Aguiar, e com ele falei, no Festival BD da Amadora, ainda na saudosa Fábrica da Cultura, por ele ter estado presente no lançamento da excelente obra em BD que você fez a partir do romance de índole histórica, "A Voz dos Deuses".
    Aqui deixo um sentido adeus àquele notável escritor.
    Abraço para si.
    Geraldes Lino

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  6. Bongop,
    Eu, felizmente, tive o privilégio de o conhecer um bocadinho, mas no resto faço minhas as tuas palavras. Um abraço.

    Geraldes Lino,
    É verdade, sim senhor. O Geraldes Lino foi também uma das pessoas que foi acompanhando o livro na sua feitura, praticamente desde o início. E posso dizer, que fiquei muito honrado por contar com a sua presença, bem como a de muitos outros amigos, naquele que foi um dia que ainda hoje recordo com imensa satisfação. Afinal, como o Lino diz e muito bem, era o meu primeiro álbum. Hoje, esse dia só fica ensombrado pelo facto de o João Aguiar nos ter deixado, quando ele próprio ainda tinha muito para nos dar. mas infelizmente a morte também faz parte da vida. Um abraço também para si.

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