domingo, 27 de fevereiro de 2011

VARIAÇÕES SOBRE A NATUREZA

   Hoje, publico dois desenhos que efectuei para o The Way of The Exploding Pencil, em temáticas que, embora diferentes, acabam por se complementar. 
   Sobre o primeiro não há muito a dizer. Não é difícil de imaginar qual era o tema e foi uma espécie de homenagem que quis prestar a esse grande quadro que nunca conseguimos reproduzir na perfeição, que para além de nos surpreender sempre, tem a particularidade de ser a fonte de vida de todos nós. Por isso mesmo, o intitulei de Natureza Mãe. Além disso, é um desenho que, mais uma vez, me permitiu trabalhar numa das coisas que mais prazer me dá: dedicar-me aos grandes espaços.
   Em relação ao segundo, ilustrava uma temática intitulada: traumas da infância. E aí, acreditem ou não, as árvores formaram um medo que me acompanhou durante alguns anos. Tudo se deveu ao facto de, quando era miúdo (tinha aí uns três ou quatro anos) apanhar um enorme susto com um gigantesco castanheiro, abatido por um grupo de lenhadores, que acabou por cair exactamente à frente do carro do meu pai, que se encontrava parado. Como não sabia o que ia acontecer, aterrorizei-me diante da árvore de grande porte que, ao tombar, na minha imaginação, parecia vir atrás de mim. Consequentemente, e durante algum tempo, assim que via as árvores inclinarem-se ligeiramente ante as rabanadas de vento (mesmo que estivessem a uma distância considerável), fugia a sete pés para um local onde elas estivessem longe da minha vista. Afinal, o que olhos não vêem, coração não sente...
   Felizmente, venci esse pequeno trauma e, actualmente, quando me sinto em baixo, não há nada, na minha opinião, como um passeio revigorante a uma floresta ou junto ao imenso oceano, para recuperar energias. Afinal, não há quadros mais perfeitos do que os formados pela natureza que nos rodeia...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ANGOULÊME - À DESCOBERTA DE UM NOVO MUNDO

Por incrível que pareça, isto é a montra de um centro comercial, na qual se destaca o cartaz do festival
As fachadas dos prédios pintadas com ilustrações de BD's, um dos ex-líbris de Angoulême
Primeiro dia do Festival, ainda antes de as portas abrirem. Repare-se na fila de gente que aguarda ...
Dany, o desenhador de Olivier Rameau ou História Sem Heróis, em sessão de autógrafos
Uma Mina feita para mim, num interessante livro sobre Drácula, desenhada por Pascal Croci
E cá estou eu junto a um fantástico desenho de Sokal. Cansado, mas ainda a assimilar novas emoções...
    Durante a semana passada este blogue esteve praticamente inactivo. A razão é muito simples: como disse na publicação anterior, fui a Angoulême, àquele que considero um dos grandes festivais de banda desenhada do mundo. É impossível descrever, quer por palavras, quer por fotografias, o que aquilo é. Só estando lá, é que se dá conta das emoções intensas que por ali se vivem. É um facto que, desta vez, já fui repetente, uma vez que já lá tinha ido em 2009. No entanto, mais uma vez, experimentei a sensação de ver uma cidade que, durante quatro dias, respira, vive e ama banda desenhada. E não falo só do festival em si que, aliás, se encontrava espalhado por todo o lado. Falo de tudo. Desde a multidão que se desloca rumo às exposições (eu encontrei espanhóis, italianos, japoneses, enfim gente de todo o lado), até às montras das lojas que, independentemente do ramo, prestam a sua homenagem à BD, para não falar dos espectaculares murais de vários edifícios, tudo ali nos lembra que acabámos de entrar num outro mundo.
Vista geral do stand onde estão os editores.
   O que se torna engraçado, é que no meio da multidão que ia aumentando de dia para dia, consegui encontrar gente conhecida. Vi o Geraldes Lino, que em Portugal dispensa apresentações pois o seu trabalho como divulgador da arte é notório, o Nelson Dona, do Amadora BD, o Nuno Amado (conhecido bloguista que assina pelo nome de Bongop) e a mulher, a Aida Teixeira (a Diabba do Inferno da Diaba), o Hugo Teixeira (um talentoso colega de profissão), o Nelson Martins e a Catarina, a sua mulher. Em relação ao Nelson, até posso contar uma história engraçada, pois conheci-o precisamente há dois anos naquelas paragens. E, foi com enorme satisfação, que soube que ele, desta vez, se deslocou a Angoulême para ir autografar o álbum Tout sur les Célibataires, no stand da sua editora, a Joker. E claro está que eu aproveitei a deixa, para ter um livro com um desenho inédito seu.
Eu e o Nelson Martins,  pouco antes dele começar a sua sessão de autógrafos. O seu livro é o que está exposto atrás, entre nós os dois
   Esta é a magia de Angoulême. Recordo-me das palavras do Hugo que dizia emocionado: "Isto é um mundo!" E é verdade. Se por um lado, ficamos extasiados, com a quantidade de livros que queriamos trazer connosco e não podemos, por outro, observamos maravilhados, que ali se junta toda uma horda ligada à banda desenhada. Ali, cruzamo-nos com desenhadores aspirantes como eu, com desenhadores já consagrados, com editores e público em geral. Imaginem pois o meu espanto quando vou na rua e, de repente, dou conta que acabei de me cruzar com o Moebius ou o Jean Giraud. Não sei qual das suas igualmente talentosas facetas é que circulava por ali, mas o que Angoulême tem de fascinante é isso, podemos encontrar quem quer que seja. Claro está que, depois, quando o voltei a ver nos autógrafos, nem pensei em tentar ir caçar um, porque a multidão que o aguardava era já imensa. E isto ainda antes dele chegar. Outra curiosidade engraçada,  foi a de ver pessoas carregadas com o seu banquinho e malas de viagem repletas de álbuns para fazerem o seu compasso de espera ordeiramente nas filas dos autógrafos ou das dédicaces, como lhe chamam os franceses.

A minha serigrafia de XIII, assinada pelo mestre William Vance
   Para além disso, para os coleccionadores e amantes de todo o género de merchandizing ligado à BD, também Angoulême é um mundo que se descobre. Num enorme pavilhão intiulado ParaBD há de tudo, desde pranchas originais, a colecções de livros que já não se encontram no mercado, a bonecos vários, consoante os gostos e as disponibilidades das carteiras. Este ano senti-me particularmente realizado, porque trouxe uma serigrafia de colecção, com a tenente Jones, a principal personagem feminina da série XIII, desenhada por William Vance, um dos desenhadores que eu admiro quase desde que me conheço. Não é difícil por isso calcular a minha satisfação quando pude adquirir aquela ilustração assinada pelo próprio.
Snoopy, um dos homenageados deste ano
O Mundo de Troy, um universo que começou com Lanfeust
Mais um pormenor da exposição dedicada ao Mundo de Troy
   Por fim, claro está, existem ainda as exposições. Eu não tive tempo para as ver todas. Não vi por exemplo a dedicada ao aniversário do Snoopy ou a Baru, o vencedor do ano transacto que este ano, como é tradição, era o presidente do Festival. Para o ano será Art Spiegelman, o famoso criador de MAUS. Mas ainda vi a dedicada ao mundo de Troy que, além de ser fabulosa, era uma das que registava sempre enormes filas à porta de entrada ou uma outra intitulada BD's e Hieróglifos, como o nome indica, consagrada a bandas desenhadas passadas no Egipto do tempo dos faraós. E, foi numa dessas exposições que vi e que estavam espalhadas por todo o lado, desde a rua, aos edifícios públicos ou às igrejas, que registei uma curiosidade: numa mostra dedicada a um livro sobre os navios na banda desenhada franco-belga, encontrei a reprodução de uma prancha do português E.T. Coelho, mais concretamente de Ragnar, o Viking, feita durante os anos 50. Fica a fotografia desse momento.
Ragnar, o Viking, de E.T. Coelho, integrado numa exposição e num livro dedicado aos barcos na BD
   Não é por isso difícil imaginar os problemas que tive em seleccionar fotografias para ilustrar este artigo. No entanto, na página do Facebook, ligada a este blogue e intitulada By João Amaral irei publicar algumas das que aqui tive que deixar de fora, para vos poder dar uma visão um pouco mais abrangente daquilo que por lá vi durante estes dias de intensas emoções. Para já, e como o texto já vai longo, fico satisfeito se vos conseguir captar um pouco do entusiasmo que mais uma vez por lá vivi e que recordarei até ao fim da minha existência... 


Fotos: Cristina Amaral 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UMA IGREJA - DO ESQUIÇO À ARTE FINAL


O blogue, durante estes dias, tem estado inactivo, porque estive em Angoulême. Em breve, mostrarei algumas coisas do que por lá vi, bem como continuarei a publicar páginas de Vidas. É que só estou a publicar uma página por semana, porque, embora elas já estejam feitas, a verdade é que estou a recuperá-las em computador, com o intuito de ficarem mais atractivas. Para além disso, vou aproveitando para construir a versão digital da história, uma vez que, quando ela foi feita, ainda não sonhava sequer com desenho em computador. Até lá, deixo-vos mais uma publicação com um mesmo desenho em esboço e com o resultado final, depois de dezenas de horas a trabalhar em Painter e Photoshop. Resta-me dizer que este desenho está incluído nbo álbum História de Fornos de Algodres - Da Memória das Pedras ao Coração dos Homens.