Quando coloquei o episódio Dias de Cólera neste blogue, disse que este foi um dos episódios que mais gozo me deu fazer. Pensando que tinha ali matéria para explorar, decidi, a certa altura, que poderia alongar o episódio e torná-lo um pouco mais complexo, de modo a poder sair em livro. E, durante algum tempo, ainda construi o projecto, que tinha a vantagem de não estar limitado ao preto e branco conforme acontecia, quando publiquei nas "Selecções BD". Fiz então alguns desenhos preparatórios das personagens, locais de acção, situações, etc.
Conforme se pode ver nas figuras que hoje coloco, a propriedade do senador romano é aqui maior e mais concentânea, com o que seria uma "villa" de uma personagem que tinha ocupado um dos mais altos lugares na esfera do poder romano. Conforme se percebe facilmente nestes desenhos preparatórios, também o vilão era o mesmo ex-líder do exército, ávido por poder e dinheiro. E, claro está, uma das personagens principais do projecto, seria novamente Mira, "a mulher-loba". Afinal, como já disse anteriormente, foi uma das minhas criações que mais fascínio exerceu sobre mim. Ainda hoje sinto um grande afecto por ela, pois é uma personagem cheia de contradições a explorar. Ao mesmo tempo frágil e determinada, quis colocá-la sempre, sob uma aura de mistério, de modo a que só aos poucos, o leitor se fosse apercebendo da sua complexidade, nunca se sabendo sequer se ela participa na acção ou, se pelo contrário, não passa da sombra de alguém que vagueia algures numa dimensão paralela, mas que ainda não sabe bem o que lhe aconteceu. A sua própria transformação em loba revela um lado animal de uma mulher sofrida, que não só se transforma fisicamente, como psicologicamente, assumindo uma personalidade que está longe de ser a sua. Mulher de profundas contradições, exerceu também para mim, sempre que a desenhei, um fascínio algo erótico. Se consegui passar isso, é outra história... Mas a intenção esteve sempre lá...
Por fim, conforme se percebe por estes primeiros desenhos, a minha ideia era, nesta altura, a de criar uma história num estilo hiper-realista que sempre me fascinou, porque pensei que essa seria uma forma de colocar os leitores mais perto dos locais de acção, embora essa mesma acção tivesse decorrido há muitos séculos atrás. Seria uma espécie de realismo fotográfico de uma época em que as máquinas fotográficas estavam longe de serem inventadas...
Talento e paciencia costumam dar-se bem.
ResponderEliminarParabens. Andavas a ver algum filme com o Bruce? :)
Abraço
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ResponderEliminarGio, isso é que é olho! Para efectuar aquela expressão da personagem, inspirei-me no Bruce, sim senhor. Um abraço!
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