José Pires, mais um bom amigo que se foi... |
Foi então no Amadora BD, no lançamento de A Voz dos Deuses, no já longínquo ano de 1994 que tive o privilégio de o conhecer. Imagine-se então qual não é o meu espanto quando vejo que na fila dos autógrafos está precisamente aquele desenhador, cujo trabalho já admirava há anos. Foi aí que comunicámos pela primeira vez e trocámos algumas ideias e, a partir desse dia, fomos falando regularmente sobre os mais variados assuntos e, claro, a paixão pelo western que ambos partilhávamos, vinha muitas vezes à baila. Mas, para além disso, foi também graças ao José Pires que passei a trabalhar em arte digital com um Mackintosh e foi ele que me deu algumas dicas sobre métodos de trabalho que me foram sendo muito valiosas ao longo dos anos.
Foram então quase trinta anos em que desenvolvemos uma relação de uma profunda amizade, em que inclusivamente partilhámos algumas aventuras juntos, como, por exemplo, uma ida ao Festival Internacional de Angoulême, em 2009. Apesar de nos últimos anos ter a noção de que o seu estado de saúde foi ficando ligeiramente mais frágil e que já não tinha a velocidade de trabalho que o caracterizava, continuou a ser alguém que me foi relativamente próximo e continuámos a partilhar ideias, sonhos e desejos...
O último ano foi aquele em que o nosso contacto se revelou bastante menor, até porque as suas limitações se foram agravando cada e cada vez mais. No entanto, de vez em quando, lá íamos trocando algumas mensagens. É por isso que, na sexta feira passada, fiquei quase incrédulo, quando constatei que o percurso dele neste planeta tinha terminado. E, agora, lamento profundamente que nunca lhe tenha chegado a mostrar Rattlesnake, o meu primeiro western, que concretizei finalmente ao fim de muitos anos de actividade. Sei que esse seria um tema de várias boas conversas e que ele, como fez ao longo dos anos, me poderia dar alguns conselhos, pois nesse campo a sua experiência era muito mais vasta do que a minha. É que, apesar do José Pires, na sua prolífera carreira, ter trabalhado em várias temáticas, era de facto no western, do qual era um profundo conhecedor, onde se sentia mais à vontade. Mas, enfim, a vida é o que é...
Resta-me agora apenas dizer que com a partida do meu amigo Pires, sinto-me mais uma vez um pouco órfão, pois é mais um valoroso amigo que vai cavalgar para lá da linha do horizonte. Ficam no entanto as boas memórias dos momentos que passámos juntos e que não foram poucos e a sua magnífica arte com a qual, tenho a certeza, ganhou o seu quinhão de eternidade...
Eu e o José Pires em Angoulême |
Carlos Rico, eu, José Pires e Carlos Baptista Mendes em Viseu, em 2018 |
Uma prancha de prova de Tex Willer que José Pires gentilmente me ofereceu |
Alguns estudos de rosto patentes na exposição dedicada aos cinquenta anos de carreira de José Pires |
Os meus sentimentos, João. Conheci o José por volta de 98 num curso de inciação à BD, tinha eu os meus 16 anos e foi uma pessoa incrivelmente disponivel para me esclarecer muitas dúvidas técnicas que me íam surgindo. Já na altura mostrava muito entusiasmo pelo digital. Estou muito triste e sinto que devo uma grande parte do meu interesse pela BD e consequentemente, a minha futura carreira enquanto ilustrador ao José.
ResponderEliminarMuito obrigado Bruno. Pois, infelizmente foi uma perda muito grande para todos nós, até porque em muitas coisas daquilo que faço o Pires teve muita influência, além de que fomos companheiros de viagem durante muitos anos. Ficam pelo menos as memórias que são boas... Um abraço.
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