Eugénio Silva: mais um grande que deixa de estar entre nós... |
É verdade que com o Eugénio não tive uma convivência tão intensa como aconteceu com o Jorge Magalhães, o José Pires ou o José Ruy, até porque morávamos longe um do outro. Todavia guardo muito gratas memórias dos vários encontros que tivemos e das conversas que fomos partilhando ao longo dos anos. Para além disso, o Eugénio era também um daqueles autores que acompanharam o meu crescimento com obras verdadeiramente fabulosas, como por exemplo Inês de Castro, que ainda hoje guardo na minha coleção. Para além disso, a nossa relação teve ainda uma grande curiosidade. É que desde a minha juventude que eu ouvia dizer que o Eugénio estava a preparar um álbum dedicado ao Zé do Telhado. No entanto, os anos foram passando e a dita história não havia meio de sair. Por isso, cada vez que nos encontrávamos, eu chateava-o com o facto do livro ser de parto muito difícil e de não haver maneira de sair do seu estúdio. Diga-se mesmo que quem lhe abordava sempre essa questão era eu e o Luiz Beira. E, talvez por isso, quando o livro finalmente viu a luz do dia em 2020, pude constatar com muita satisfação que o Eugénio nos havia de certa forma homenageado, colocando-nos numa vinheta como os morgados de Canavesinhos.
Mas este foi apenas o corolário de vários episódios que se foram passando ao longo de vários anos. Isto, porque uns Natais antes do livro sair, já o Eugénio me tinha presenteado com a reprodução de uma prancha dele, em que re-escreveu os diálogos, dedicando-os à minha pessoa. Esse é um presente que ainda hoje guardo junto à minha coleção com muito carinho.
Contudo, essas são apenas algumas das memórias que ficaram. Muitas outras dos vários encontros que tivemos ao longo dos anos acompanhar-me-ão até ao resto dos meus dias. Lembro-me por exemplo de uma vez ele me ter convidado para assistir a uma exposição sua, onde o fiquei a admirar também como sendo um notável aguarelista com um estilo verdadeiramente luminoso. É por isso que, com muita tristeza, o vejo também partir. Afável por natureza o Eugénio era alguém com quem se podia sempre conversar agradavelmente sobre vários assuntos e de quem, tenho a certeza, irei também sentir muita falta nos próximos anos.
Fica no entanto a convicção de que todos estes meus amigos estarão agora juntos no que se pode designar um pequeno paraíso dedicado aos grandes artistas que em vida foram... Por isso, deixo aqui um até um dia Eugénio, sabendo que até lá existem muito gratas memórias que irão prevalecer...
Fotos: Cristina Costa Amaral
A homenagem que o Eugénio me fez a mim e ao Luiz Beira, na vinheta da direita do álbum dedicado a Zé do Telhado |
A prancha de Zé do Telhado que o Eugénio re-escreveu de propósito para mim e que meu ofereceu num já longínquo Natal |
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