Uma vez que nos aproximamos a passos largos da Páscoa, resolvi colocar hoje um desenho que me foi pedido há dois anos para ilustrar a capa do jornal da paróquia de Sintra, Cruz Alta. Como tive ampla liberdade de criação e queria fugir um pouco ao que é tradicional fazer-se como ilustração para esta época, decidi colocar o enfoque, não na paixão e crucificação de Jesus Cristo, mas sim na sua ressurreição (quanto a mim, o facto realmente importante). Também não queria representar a sua face, pois considero que já existem milhões de representações. Eu próprio, já fiz algumas quando trabalhei no livro O Menino Jesus Fez-se Homem. Lembrei-me então de um quadro que sempre me apaixonou: Cristo de São João da Cruz, de Salvador Dali. Claro que não tive, sequer a pretensão, de chegar aos pés de um verdadeiro mestre, mas quis tão somente fazer uma representação como ele tinha feito nesse quadro: ou seja deixar a face de Cristo à consideração da imaginação de cada um. Em vez de mostrar, sugerir.
Por fim, foi também um desenho que, no processo de pesquisa, me permitiu aprender algo mais, pois a maior parte das crucificações que existem representadas, estão erradas. Os pregos foram espetados nos pulsos, nunca na palma da mão, pelo simples facto, de que se fossem colocados nessa zona, a carne se rasgaria e os braços acabariam por cair. Nos pulsos, ao contrário, existe um osso que, depois de perfurado, sustenta o prego. Mas, claro está, tudo isto é uma simples questão de pormenor. Resta-me, pois, desejar a todos os que visitam este blogue os votos de uma BOA PÁSCOA.
Fizeste bem em fugir ao "tradicional". A ideia parece-me boa. Ainda melhor: puseste a cicatriz do prego logo antes do carpo o que mostra que conheces as últimas teorias. Bem pensada, bem executada, o que se pode pedir mais a uma ilustração?
ResponderEliminarBom trabalho e um abraço
Ontem vi no canal História que afinal e depois de umas experiencias em que os pés tinham apoio, os crucificados poderiam muito bem ter sido pregados pelas palmas das mãos sem rasgarem.
ResponderEliminarUma boa Páscoa!
Uma bela ilustração! E depois da explicação, melhor se entende a escolha (acertada) que fizeste.
ResponderEliminarGostaria, contudo, se fosse possível, que nos mostrasses o resultado final da capa, isto é, o desenho de fundo e o lettering que se aplicou por cima.
Muitas vezes esse trabalho não é feito pela pessoa que cria a ilustração. Por essa razão, nem sempre o resultado final é satisfatório.
Acredito não tenha sido esse o caso. Até porque, se percebe, perfeitamente, que o João teve o cuidado de deixar "zonas vagas" para a colocação do cabeçalho, dos títulos, etc.
Mas gostaria de ver, num outro "post", a mesma imagem já com todos os lementos que fazem parte duma capa. O trabalho fica completamente diferente. Daí a minha curiosidade.
Grande abraço, João!
Continuação desse óptimo trabalho!
Carlos Rico
Gio,
ResponderEliminarAinda bem que gostaste. Sobre a crucificação, devo-te dizer que não vi esse programa e tenho pena. Mas tanto quanto sei, há várias teorias. Há outra que afirma que os crucificados eram amarrados na zona do antebraço e assim já poderiam aguentar os pregos nas palmas das mãos, pois a corda funcionaria como uma espécie de apoio (como se pode ver por exemplo no Jesus de Nazaré, do Zefirelli). Mas como disse no texto, isso tudo é uma questão de pormenor. O que importava realçar no desenho não era isso. Um abraço e continua a surpreender-nos com o teu magnífico trabalho. Ah... e obrigado pela dica.
Olá Carlos Rico,
O resultado final é complicado mostrá-lo aqui, pois como se trata de um jornal, tenho-o dobrado. Consequentemente, digitalizar a imagem que ainda por cima é maior que o A4 não é fácil, para os meios que tenho. Mas posso-te dizer que não ficou mal. E como tu disseste e muito bem, eu quando elaborei a ilustração pensei logo na possibilidade do desenho levar todos quase todos os tipos de título. No entanto, só levou um e curto. Mas podes ficar descansado que, quando estivermos juntos, eu levarei o jornal para tu veres. Fica prometido. E continua também o teu magnífico trabalho no Ribanho. Olha, e porque não começar a publicar algumas tiras num blogue. Fica a sugestão, juntamente com um abraço.
Muito bonita a ilustração, João! O tema foi trabalhado de forma bem delicada e magnífica!
ResponderEliminarEric,
ResponderEliminarSim, como disse no texto, tentei fazer uma ilustração que nos permita reflectir sobre o verdadeiro significado da época, mas de uma forma diferente ao usual. Caberá aos outros avaliar se consegui isso ou não. Pelo menos, tentei. Um abraço.