quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

RECORDANDO GERALDES LINO, O AMANTE INCONDICIONAL DA BD...


Geraldes Lino, na altura em que foi homenageado pelo GICAV em Viseu
Numa das muitas tertúlias que organizou, Geraldes Lino posa com o Bruno Ma e comigo...
Foto de grupo no Festival de Moura. Da esquerda para a direita. Carlos Rico, Monique Rutler, Maria Fernanda Pinto, José Ruy, José Pires, Luís Filipe Diferr, Jorge Magalhães, Geraldes Lino, Victor Mesquita, Tito e Luiz Beitra. De joelhos: eu e Catherine Labey
     Com o desaparecimento de Geraldes Lino, sinto que, tal como aconteceu nos últimos tempos, com Jorge Magalhães e Zé Manel, é mais um nome incontornável que nos deixa. Julgo mesmo que todos os autores de banda desenhada, na quarta-feira passada, se sentiram subitamente órfãos, pois ao longo de muitos anos, todos nós conhecemos este ser humano único, de uma forma ou de outra, e respeitámo-lo sempre, constatando que tinha, entre outras qualidades, um amor apaixonado e desinteressado, que dedicava à nona arte.

     Eu, como penso que todos os desenhadores e argumentistas ou simples amantes desta forma de expressão, há muito que aprendi a ouvir a sua opinião de profundo entendido. E, falando agora um pouco mais a título pessoal, posso dizer que conheci o Lino, apenas com 14 anos, numa das várias reuniões que o Clube Português de Banda Desenhada (de que era membro), organizava então, algures, no último andar de um prédio, em Benfica. Na altura, era apenas um jovem sonhador que aspirava, um dia, poder vir a ser um autor de banda desenhada. Como muitos outros, fui-lhe mostrando os meus trabalhos e ouvia atentamente os seus conselhos. A partir desse dia, passo a encontrá-lo frequentemente e temos sempre tempo para dois dedos de conversa.

     A nossa amizade vai-se solidificando ao longo dos anos seguintes, a tal ponto que, quando tenho algumas pranchas prontas de A Voz dos Deuses, um projeto que já me entusiasma, decido mostrar-lhas, ainda antes de me deslocar a qualquer editor para apresentar o projeto. Lembro-me que o Lino fica, desde logo, entusiasmado com a ideia, pois também é um admirador da obra do João Aguiar. De certa forma, é a sua opinião que me motiva para dar então o passo seguinte...

     A partir desse momento, encontramo-nos regularmente em Festivais de Banda desenhada, nalgumas das muitas tertúlias de banda desenhada que organiza (tendo inclusivamente sido homenageado numa delas) e, vamos colocando a nossa conversa, sobre os mais variados assuntos, em dia. A coisa foi a um ponto tal que, a partir de certa altura, não concebo qualquer acontecimento ligado à BD, sem contar com a presença assídua deste homem, que todos aprendemos a admirar, pela sua paixão, que se desdobra em várias actividades, inclusivamente como amante de fanzines que guarda, promove e, alguns, até edita, ao longo dos anos. Mas a imagem que guardo do Lino é a de um profundo conhecedor e divulgador, extremamente disciplinado e organizado no seu trabalho, a tal ponto, que muitas vezes não hesitei em dizer que, quem quisesse uma biografia detalhada minha ou de qualquer outro autor, a procurasse no seu blogue. Depois, bem depois, é aquele sorriso largo, parcialmente escondido pelo farfalhudo bigode e aqueles olhos flamejantes de entusiasmo que inegavelmente nos cativam...

     Sobre ele, poderia dizer muito mais coisas e, como devem calcular, fiquei extremamente satisfeito por, na cerimónia feita pelo GICAV em Viseu, em 2013, em que me atribuíram um prémio pelo meu trabalho, constatei que outro dos homenageados era ele. O seu amor incondicional, a exemplo do que aconteceu em muitos outros locais, também ali é reconhecido e, esse é um facto que o motiva sempre a trabalhar ainda com mais prazer. No entanto, a partir de um dado momento, lembro-me dele, sempre triste, ressalvar que já não podia fazer as coisas com o rigor que lhe era conhecido, porque a memória, para lá dos seus sempre joviais setenta e tal anos, já o atraiçoa. Eu digo-lhe que esse é um facto que, até comigo já acontece e que sou muito mais novo do que ele. Olha-me e sorri, mas nem por isso fica mais alegre e, compreendo perfeitamente porquê.

     Como disse, muito mais coisas haveria a dizer sobre o Geraldes Lino. Para já, ficam memórias indeléveis, que me seguirão até ao final dos meus dias e a profunda certeza que senti também com o desaparecimento do Jorge. Com a sua saída de cena, é mais um enorme farol que nos alumiava, que se apaga e nos deixa, agora, ao sabor das marés. Dotado de uma personalidade única, é alguém, que posso afirmar, com absoluta certeza, que será muito difícil de ser substituído. Triste, mas profundamente grato por tudo o que me foi ensinando ao longo dos anos, digo-lhe adeus, da forma que ele gostava de utilizar, para se despedir das pessoas: com uma enorme saudação bedéfila...

Fotos: Cristina Costa Amaral

Uma pequena homenagem que fiz ao Lino em "A Viagem do Elefante", onde o introduzi, desenhando-o de memória e uma farta cabeleira que nunca teve, como Alcaide de Castelo Rodrigo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A BORDO...


Esta é uma página para uma banda desenhada, algo inspirada na história trágico-marítima, que fiz há já alguns anos...