Eu conheci o José Ruy há 28 anos, por alturas do lançamento de A Voz dos Deuses, o meu primeiro livro. Estávamos então em pleno Festival da Amadora . E ele, não só acompanha todo o processo de lançamento, como depois vem ter comigo e, de forma afável, salienta a minha coragem por ter embarcado neste projeto de grande dimensão. Sublinhe-se que, nesta altura, José Ruy era já um autor já plenamente consagrado, com décadas de trabalho atrás de si e já muitos álbuns publicados. Por isso, guardarei sempre na minha memória esse momento em que nos conhecemos e trocámos as nossas primeiras impressões, sendo eu apenas alguém que acabava de chegar à BD.
A partir daí, este grande autor tornou-se em alguém que me deu um apoio constante ao longo da vida. Lembrarei para sempre a sua delicadeza e o seu espírito construtivo que me acompanhou, ao longo de anos, com sugestões, ideias ou apenas simples conversas. E, daqui para a frente, terei não só saudades dos muitos momentos que partilhámos juntos, mas também dos nossos contactos através de email. Posso, por isso, dizer que o José Ruy deixou uma marca indelével ao longo dos anos. Nunca me esquecerei de que, sendo ele um já muito prolífero autor, com uma vasta obra atrás de si e uma notável capacidade de trabalho, esteve sempre presente, nem que fosse com uma simples palavra de encorajamento e incentivo. É disso que irei sentir muita falta, porque mais do que um autor, ele foi para mim sempre um amigo com A grande. E isso ainda assume mais importância, quando estamos a falar de alguém que deu um enorme contributo à banda desenhada, com provavelmente mais de cinquenta álbuns publicados, obras que contribuíram enormemente para dar outra visão a pequenas histórias da História, apesar de ter trabalhado também noutros géneros...
A esse nível posso também dizer que o primeiro contacto que tive com parte da vastíssima obra que nos deixou foi quando eu era ainda um jovem que sonhava poder um dia ser um autor de BD. Nunca mais me esquecerei das Aventuras do Clique e do Flash nas páginas do Tintin, onde com um enorme sentido de humor, entre outras coisas, parodiava de forma inteligente algumas situações e lugares comuns na própria redação da revista. Depois e, ao longo dos anos, fui então travando conhecimento com o que posso designar de uma carreira ímpar, sabendo que a própria História o lembrará para sempre com muito amor e carinho...
Resta-me dizer que apenas suspeitei que alguma coisa não andava realmente bem, quando no último Amadora BD não o vi. É que, ao longo dos anos o José Ruy foi sempre uma presença constante neste evento, onde com a sua amabilidade e afabilidade, pontuava sempre por uma presença única. Daí que tenha estranhado pela primeira vez não o ver presencialmente. No entanto, nessa altura, ainda não sabia da verdadeira dimensão da doença que o consumiu de forma galopante.
E, com a sua partida, sinto então uma profunda tristeza, que infelizmente já tinha sentido com o desaparecimento do Jorge Magalhães, do Geraldes Lino ou do José Pires. Apenas me consola a ideia de que, por estas alturas, estarão todos numa espécie de paraíso, para onde irão certamente todos os amantes de BD. E sei também que terá sido muito bem acolhido por todos estes e outros seus amigos, para juntos iniciarem provavelmente outro tipo de aventuras...
Para finalizar, fica então aqui um grande ATÉ SEMPRE deste que, ao longo dos anos, se tornou num admirador confesso...
Eu e o José Ruy, em pleno Amadora BD nas sessões de autógrafos... |
...a dar vida a novos desenhos |
Da esquerda para a direita: José Pires, José Ruy, a sua esposa Maria Fernanda, Tito e Luís Beira, estando eu em baixo |
Uma das muitas pranchas que José Ruy nos deixou para a posteridade... |